O punho se fechou com tanta força, que o restante de areia em sua mão
ganhou forma. - Ah, agora estou sentindo! – Tomado pelo fogo da motivação. As
dificuldades haviam desaparecido. A estratégia antes duvidosa, agora não tinha
falhas. Ele sentia uma chama circundando seu corpo, um calor inexplicável que
saia do estômago e corria em suas veias.
O Suor escorria pelo elmo e decantava na boca, entre os dentes,
trincados de raiva. O guerreiro está a um pulo de conseguir o que tanto esperava.
- Ataquem! - grita o 1º Capitão. Um gesto intuitivo de voracidade e vigor puseram as pernas para correr como nunca antes feito.
- Ataquem! - grita o 1º Capitão. Um gesto intuitivo de voracidade e vigor puseram as pernas para correr como nunca antes feito.
O guerreiro agora era todo instinto. Seus movimentos agora ritmados
como um compasso: uma valsa, acentuando cada colcheia com furos em vez de
notas. Diante os inimigos ele não aguenta, e sorri timidamente. Não conseguia
esconder a felicidade de estar em uma batalha, fazendo o que sempre sonhou em
fazer. Uma vida inteira treinando incessantemente, buscando a perfeição dos seus
passos.
Explode sua investida contra o rival, que se encontra desarmado, de
cabeça baixa, as mãos juntas como em uma
oração e com um ar distante da batalha. Sua espada o atinge como um feixe de luz, bem no
centro de sua face. Entranhada sua ponta, sorri novamente quando nota que a
vitima ainda olha em seus olhos, sem piscar. Retira a espada do rosto num
movimento oposto com que faz com sua perna, empurrando-o no peito. O sangue pinga
da lamina ainda no ritmo da valsa. Tudo aquilo era uma dança que o guerreiro
havia ensaiado sem saber, a vida inteira, sem erros na coreografia.
Ele olha pro céu e agradece por poder matar e morrer no campo de
batalha. Larga a arma no chão, em seguida o escudo. Retira o elmo. Baixa a
cabeça e começa a rezar. Ele se sente abraçado, preso a alguma coisa. As
lágrimas e o sangue correm em mesma gota, assim como a vida e a morte. Emerge
com o som cortante da arma inimiga contra sua armadura fina. O compasso era
diferente, um ritmo desconhecido. Seus olhos endurecem como vidro, ainda no
foco do inimigo, que sorri e arranca a espada do seu peito. Sem dor e sem
pecados, se envolve com a areia sangrenta que lhe acolhe em sua queda.
No chão, uma última olhada para
seu assassino conforta sua partida.
– Agora entendo o ciclo
perfeito. Uma melodia triste, porém confortante.
Como uma sombra que guia
movimentos, a morte retira as armas do inimigo, inclina sua cabeça para cima e junta
suas mãos na posição de oração. Depois o agarra num abraço forte e profundo...