quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Dança da Vida



            O punho se fechou com tanta força, que  o restante de areia em sua mão ganhou forma. - Ah, agora estou sentindo! – Tomado pelo fogo da motivação. As dificuldades haviam desaparecido. A estratégia antes duvidosa, agora não tinha falhas. Ele sentia uma chama circundando seu corpo, um calor inexplicável que saia do estômago e corria em suas veias.
O Suor escorria pelo elmo e decantava na boca, entre os dentes, trincados de raiva. O guerreiro está a um pulo de conseguir o que tanto esperava.
- Ataquem! - grita o 1º Capitão. Um gesto intuitivo de voracidade e vigor puseram as pernas para correr como nunca antes feito.
O guerreiro agora era todo instinto. Seus movimentos agora ritmados como um compasso: uma valsa, acentuando cada colcheia com furos em vez de notas. Diante os inimigos ele não aguenta, e sorri timidamente. Não conseguia esconder a felicidade de estar em uma batalha, fazendo o que sempre sonhou em fazer. Uma vida inteira treinando incessantemente, buscando a perfeição dos seus passos.
Explode sua investida contra o rival, que se encontra desarmado, de cabeça baixa,  as mãos juntas como em uma oração e com um ar distante da batalha.  Sua espada o atinge como um feixe de luz, bem no centro de sua face. Entranhada sua ponta, sorri novamente quando nota que a vitima ainda olha em seus olhos, sem piscar. Retira a espada do rosto num movimento oposto com que faz com sua perna, empurrando-o no peito. O sangue pinga da lamina ainda no ritmo da valsa. Tudo aquilo era uma dança que o guerreiro havia ensaiado sem saber, a vida inteira, sem erros na coreografia.
Ele olha pro céu e agradece por poder matar e morrer no campo de batalha. Larga a arma no chão, em seguida o escudo. Retira o elmo. Baixa a cabeça e começa a rezar. Ele se sente abraçado, preso a alguma coisa. As lágrimas e o sangue correm em mesma gota, assim como a vida e a morte. Emerge com o som cortante da arma inimiga contra sua armadura fina. O compasso era diferente, um ritmo desconhecido. Seus olhos endurecem como vidro, ainda no foco do inimigo, que sorri e arranca a espada do seu peito. Sem dor e sem pecados, se envolve com a areia sangrenta que lhe acolhe em sua queda.
No chão, uma última olhada para seu assassino conforta sua partida.
 – Agora entendo o ciclo perfeito. Uma melodia triste, porém confortante.
Como uma sombra que guia movimentos, a morte retira as armas do inimigo, inclina sua cabeça para cima e junta suas mãos na posição de oração. Depois o agarra num abraço forte e profundo...